quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Diga NÃO à violência obstétrica!

  O primeiro GO com quem me consultei aqui em Campinas era cesarista assumido e assim que perguntei sobre parto normal ouvi o seguinte discurso: que parto normal é coisa de antigamente e do interior do Brasil onde os médicos ainda chegam à cavalo e recebem pelo parto em frango, e que era tudo muito demorado. Que por isso escutamos dos mais velhos que antigamente nascia muito "anjinho", mas que hj com a cesária esse risco não existe... Que se ele fosse mulher não teria dúvidas em optar pela cesária programada, que o filho dele nasceu de cesária. Mas que se ainda assim eu quisesse um parto normal ele faria mas com fórceps (que é rotina) e epísiotomia que era para eu não ficar flácida pra sempre!  Ou seja, ou ele me cortava por cima ou me cortava por baixo! Ao menos ele foi sincero, assim que perguntei ele mostrou claramente sua posição. Não me enganou falando que conversaríamos mais pra frente, que ainda era cedo para se pensar no parto, que tentaríamos o parto normal qdo chegasse a hora, para que assim qdo eu tivesse lá pela 36a. semana ele justificasse a necessidade de uma cesária devido a circular de cordão, dizer que meu filho estava em sofrimento, que meu filho estava pronto e pra que esperar ou caso eu conseguisse entrar em trabalho de parto ele vir me dizer depois de 3h que eu não dilato (como se eu tivesse um defeito de fabricação) e assim justificar a cesária. 
Conheci a humanização e vi que parir poderia ser uma experiência gratificante, prazeirosa e que só fazia bem para mãe e bebê. Troquei de médico, me informei, frequentei um grupo de parto ativo e humanizado, escutei relatos de parto, me preparei para o parto natural, mas por conta de uma pré-eclampsia minha gravidez se tornou de alto risco. Mas isso não significou uma cesária agendada. Minha médica conversou muito comigo e com o Gui, deu todo apoio necessário e todas as decisões foram tomadas em comum acordo pelos 3 e sempre depois dela explicar tudo pra gente, esclarecer todas as nossas dúvidas, sempre se procupando muito com nosso bem estar emocional. Depois de mais de 48h de indução foi necessário uma cesariana, e que bom que ela existe! Pois em casos como o meu ela foi necessária, mostrou a sua importancia qdo bem aplicada. Mas nem de longe esse é um procedimento de rotina, é uma cirurgia, cheia de riscos como qq outra! Apesar da cesariana, meu parto foi o mais humanizado possível: eu entrei em trabalho de parto, senti as contrações, dilatei, entrei em comunhão com meu filho num momento mágico onde éramos um ajudando ao outro para que ele pudesse estar em meus braços. Assim que nasceu ele veio para o meu colo e mesmo anestesiada tive minhas mãos desamarradas e pude tocá-lo, cheirá-lo, enchê-lo de beijos. Ele mamou na primeira hora, não sofreu nenhum procedimento desnecessário, ficou no meu colo durante a minha recuperação da anestesia e EU fui respeitada o tempo todo! Nada me foi imposto ou justificado através do medo. 
Infelizmente essa não é a realidade obstétrica do Brasil. O que se escuta é uma violência cometida contra as gestantes. Basta vc parar para escutar ou então dar uma procurada na internet que vc facilmente encontrará estórias de sofrimento, medo, dor e falta de respeito. Das que me contaram pessoalmente estão algumas abaixo:                                                                                                                                                 
- exames de toques desnecessários e abusivos durante o pré-natal que fizeram a gestante voltar pra casa com sangramento 
- episiotomia desnecessária (que pra mim nada mais é que mutilação) que infeccionou e impediu a mãe de conseguir se sentar por cerca de 2 semanas 
- ter a bolsa rompida sem seu concentimentou ou mesmo sem qq tipo de explicação 
- uso desnecessário de ocitocina sintética 
- ser motivo de chacota dentro do hospital por querer um parto natural
- se sentir obrigada a ficar em silêncio para não incomodar as outras pessoas
- escutar frases do tipo "faz força pq pra fazer não doeu", "pra que gritar, duvido que esteja doendo assim", "viu quis ter parto normal foi isso que deu (falado por um médico particular para uma mãe que não quis agendar a cesária e passou por um parto normal desrespeitoso), "tá bom, anda logo, não precisa ficar dando ponto bonitinho não" (falado pela chefe do plantão para um residente que estava cuidadosamente dando ponto em uma mãe que se negou a fazer episiotomia e teve algumas pequenas lacerações no parto"
-  ter alguém da equipe médica empurrando sua barriga para o bb nascer mais rápido
- mães com medo de engravidar do segundo filho por causa do trauma sofrido devido a um parto normal violento
- mães que viram seus filho por 30s depois do nascimento para então os verem ser levados para o bercinho aquecido e só os reencontrarem depois de horas sozinhas na sala de recuperação
- mãe que se culpa por não conseguir dilatar, qdo NÃO existe mulher que não dilate o que existe é medico que não gosta de esperar!
- cesária desnecessária justificada através do medo com o famoso "seu filho está em sofrimento fetal vamos marcar a cesária para daqui dois dias" ou "ele tem circular de cordão, se for parto normal ele pode morrer sufocado", entre tantas outras justificativas absurdas
Essas são apenas algumas das estórias que aconteceram com pessoas que eu conheço. A violência obstétrica contra a mulher é ainda muito maior e mais dolorida. E cesária eletiva de forma alguma é solução!
Mulheres, mães, futuras mães, tentantes não deixe de se informar! Mudar essa realidade só depende de nós!
 #BlogagemColetiva #FimDaViolenciaContraMulher

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